sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Choque.

Choco-me contigo e levo
choque de realidade
no corpo meu, tua mente,
e tu mentes quando diz
que não te chocas.

Choca-me a realidade,
mas também a fantasia;
choca-me o público
e o privado; o púdico,
o módico e o depravado.

Chocam-me as cores,
os brancos, os pretos,
os vermelhos, os amarelos,
os altos e baixos, sonoros,
barulhentos e quietos.

Chocam-me o piso e o teto,
o ferro, a madeira e o concreto
descaso com as vias morais
ou marginais; as vítimas fatais,
chocam-me os vícios mortais.

Chocam-me os efeitos colaterais,
os defeitos cruciais, os filmes
em cartaz, os feriados
nacionais, os funcionários
federais, os inúteis e os tais.

Chocam-me a ciência e a arte,
a paciência do covarde,
a intransigência e o alarde
desnecessário, o horário
do jogo, do sono; o engano.

Me chocas com tuas palavras
e teu mórbido silêncio,
tua falsa inocência;
a malemolência dos bons
que toca a incoerência.

***

Suas palavras me corroem, minha vida toda enferrujada e você com todas as suas mais cruéis verdades. Você simplesmente não percebe a profundidade rasa que conquistamos.  Tão confortável.

Tantas palavras assim jogadas, na verdade o que você procura é o choque? O novo no velho de todo dia? Entenda: Nada me choca, nada me diverte, nada me assusta, nada me faz questionar e sou feliz assim, qual é o sentido de ver tudo diferente, de ver o mundo como uma surpresa se tudo o que tenho aqui é o que preciso?

Pra quê te falaria tudo isso, se falar quebraria o silêncio entre nós, no qual me apego tanto, para o qual vivo todos os dias. E nada afeta a minha rotina de viver para você. De repente, como se tudo virasse de cabeça para baixo, como numa revolta muda, você se enraivesse com o mundo, comigo, com tudo o que está construído sobre nossa vida calculada.

O que me importa o que está ao meu redor, quando entro no meu apartamento e tudo o que tenho lá é o mais importante para mim? Nada mais me importa! Toda a desgraça no caminho é invisível aos meus olhos! Leio os jornais, fecho a página e tudo volta ao normal, ao meu normal. Entro no restaurante e o que vejo são cores lindas, luzes desenhadas para deixar as mulheres mais maquiadas e suas jóias mais brilhantes. E o que mais quero é esse brilho falso, de luzes desenhadas para mim. Isso é o que importa para mim, totalmente o contrário do que dizes: não me choco. Choca-se quem pensa. Eu apenas represento a inocência falsa de quem não enxerga.


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