quinta-feira, 16 de junho de 2011

Não me defendo mais
de ti; quero tua fumaça,
tuas vias molhadas, 
escorregadias; são estas
que, agora, ataco
possuído de fúria-volúpia,
quase em movimento
obsceno e auto-destrutivo.

Teus céus não me ofendem mais; 
arranham-me, instigam 
meu desejo de cura através da pura 
sede de brinde, charme, 
loucura; e teus caminhos acabam
por me levar à razão 
de existir; amá-la, gozar, sorrir.

É instintivo o ato
de fugir de tuas inúteis
retas, cheias
de fúteis seres enjaulados
sobre rodas; assim
como, é fato,
o alívio é entregar-me 
a [delas-minhas] nuas curvas.

Teu caos glorifica a míngua-
-conquista; beatifica as simples 
saídas; quantifica as vindas e idas
e ratifica a ideia 
de que tudo o que, frente a ti, 
mantém-se firme e livre,
é bom, ativo, sublime e vitalício.




Se me defendo agora é apenas de mim, que em suas ruas tortas e sem sentido me fazem pequena e vazia. Sua chuva ácida se desfaz em mim, destruindo o ultimo rastro de neutralidade em minha vida. Deixo que me leve em enxurrada, descendo íngremes ruas, passando debaixo de imundos viadutos com seu cheiro acre. E torço apenas, entre um farol e outro, que você já não exista em mim, que eu tenha te largado na última esquina que nos cruzamos, que a rua que sigo me leve para longe de você. Para não mais te desejar como ultimo recurso de proteção, como a quem pede a Judas segurança. Como quem espera qualquer segurança. 

Quando chego ao seu fim, esqueço-me de ser fraca, pois todo este caminho foi traçado para mim. Se em ti não estivesse, talvez a existência não seria possível. Dentro de tuas mentiras e de toda essa força disfarçada de concreto encontro também a minha pujança de seguir todo dia, como uma gigante que atravessa suas muralhas, como se já não as tivesse apenas dentro de mim - me acompanhas na batalha de todo dia, pois sou fraca também, e forte como concreto.