sexta-feira, 5 de novembro de 2010

do tempo I


O tempo urge no carro e o bate-bate das pulsações dá o ritmo do anda-e-para de tudo o que se configura importante à minha persona. Nuance hedonista? Talvez. O tempo, preciosa moeda de troca, molda a imediata razão.

O que antes trocaria fácil, hoje não troco por nada. Mal troco de roupa; mal sugo a polpa e nem mordo o fruto. Mal entro, já saio; mal levanto e já caio na rotina do minuto-a-minuto, prazer diminuto, tensão sustenida por motivos de sétima categoria à minha íntima canção de existência. Onde está a essência? Dentro dos fins-de-semana, dentro de ti, molhada de êxtase, na calada da noite, nem sempre quieta.

A dieta é racionada e pouco pensada; um pouco pesada. Não existe receita p'ra subsistir nessa selva. Nada fura o bloqueio de duras pedras, nem água mole. Tanto bate esse coração que já aprendeu a bater e apanhar. E gostar do que vê no cinza e vive no azul.
***

São 11 horas e todo o tempo já se foi. Todo o tempo que guardei no bolso já não está mais aqui. E eu achando que poderia guardá-lo em segredo. Senti-o sair de mim como uma brisa, como algo que está premeditado a ir embora, a não permanecer. Mas ele fica. Sempre está aqui. E mesmo assim passa, vai se esquivando, como se fizesse questão de não estar; faça o tempo parar? Faça até mesmo ele andar para trás? Mas andar...não, para andar é preciso que se ande para frente, numa imposição da natureza da qual nós, seres – às vezes até mesmo humanos demais – nunca iremos escapar. E o tempo, por estar submetido aos ponteiros em nossos pulsos, anda – sempre para frente, freneticamente. E por estar preso em nós, nos iludimos ao tentar controlar. Nós, que não aceitamos o passado, que não aceitamos olhar para trás, que viramos as costas e continuamos a andar. Mesmo ainda doendo; é impossível se arrepender. Por isso, andamos para frente, porque isso nos foi imposto, num tempo que não é possível mais lembrar. Andamos para frente, mesmo que seja para longe. E não ouse se importar com a dor, não ouse perceber o sofrimento. Não se engane. O tempo nunca nos daria o prazer de sua ausência. Por isso, vá sempre para longe, o tempo nunca aproxima, apenas afasta, apenas esquece. Dê tempo para esquecer, nunca para lembrar. Seja sempre a negação, dando as costas, nunca espere para ver, nunca espere. O tempo - ele sempre vai embora.

Um comentário:

  1. Hoje não troco por nada todo o tempo que já foi.
    No mais, o tempo pará. Mas apenas nos momentos de redenção.

    ResponderExcluir