segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Acordo.

Anuncie que estou aqui, para os quatro cantos que te cercam. Anuncie que diferente de mim não há nada. E que me assemelho a tudo que já tenha visto. Diga a todos à sua volta que não farei nada que transgrida alguma regra que tenha imposto. Não entrarei na contra-mão e respeitarei o farol vermelho. Esperarei como todos na sua eterna fila e respirarei com prazer seu tão impuro ar.

Em troca desde acordo que fazemos peço apenas que me permita um espaço qualquer, um pedaço de tempo em que eu não precise me encaixar nas suas ruas e calçadas descascadas. Permita-me por apenas um momento não ser vista por todos os seus olhos, permita-me não te pertencer. Permita-me conseguir imaginar a vida fora das tuas veias. Por todo o resto do tempo dou-te minha palavra de não procurar respostas, não realizar desejos e nunca ser diferente.






Tua maior riqueza é a atenção. É pouca e cobiçada. Não tens tempo p'ra nada, senão rotina, funções vitais, obrigações letais. Teus dutos arteriais, vias coletoras, respiratórias, corroem-se no ácido clima de incertezas e toneladas de impurezas. Tudo o que é puro em ti, original, é disputado na faca, na briga, no voto, nos mind games. São deixados de lado teus anseios, tuas inúmeras vidas dentro de ti. Talvez, tua alma seja gêmea de todos que habitam teu grande palco-coração. Cada parte sendo ocupada de características que agradam, inspiram, ferem, decepcionam. O teu espaço nunca será só teu. E a maior sabedoria é compartilhá-lo com sabor.

Querem um pedaço teu, nem que seja minúsculo. Querem teu céu, tua fortuna, teu jardim, teus lindos filhos, teus pais e patrões, trabalhadores. Querem tua saúde: teu abstrato amor. E você só quer ser.

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