terça-feira, 1 de março de 2011

New wave.

Teu ar é new wave;
por artificiais motivos
protecionistas, ativistas
da segregação social fundam
uma nova onda de mútua agressão
natural e, sem claro objetivo,
esquivam-se das leis-dos-bons-homens
e engrossam o coro das ordens do patrão.

É artificial o concreto de tuas vias;
nenhuma afinidade sobrou com as águas
que te banham em excesso - os progressos
milímetros são combustível para a explosão
de buzinas embarcadas em teus leitos pluviais
de bueiros violados, entupidos de ignorância.

Teus navegantes são covardes-cidadãos, destemidos
enganados, traídos vassalos da divina redenção,
da fé sem razão em quem nunca deu solução
a essa enchente de básicas necessidades.



Já sem poder prever os percursos para finalmente conseguir alcançar sua casa, havia investido suas economias num possante carro-anfibio, novidade no último Salão Contemporâneo de Inovações Urbanas. Junto com a mobilidade recém-adquirida levava também um guarda-roupa, escova de dente, pente, canetas, lápis, internet sem fio, televisão, sua coleção de DVDs e alguns livros. Seu Ipad havia comprado enquanto preso dentro de um shopping cujas saídas estavam interditadas devido à última enchente. Era assim a sua rotina nos meses de verão: de tempos em tempos conseguia chegar à sua antiga casa, guiado por instrumentos fluviais; enquanto isso, trabalhava. Mesmo com toda a tecnologia disponível, por vezes os temporais cortavam o sinal da internet e do telefone, transformando seu dia já vazio em uma ilha de solidão. Consolava-se ao ler as revistas que contavam histórias similares à sua, pessoas presas dentro de si mesmas, vagando por ruas alagadas, procurando suas vidas há tempos perdidas em esquinas que não podiam mais ser achadas. Sentia-se acolhido por tanta desgraça. Ouvia as buzinas ao seu redor e entendia que aquela era a comunicação que teria com o mundo, era assim que as pessoas haviam decidido se comunicar. Esperava que pudesse achar de novo o amor que um dia sentiu e que estava agora submerso junto com carros, ônibus, bicicletas, pneus, arvores e alguma solução para todo esse caos. A única opção era esperar por um longo e seco inverno durante o qual poderia desempacotar a sua bolha de umidade, estacionar seu carro-anfibio na garagem e continuar sua busca por uma civilização distante na qual poderia respirar algum ar puro e conversar alguma conversa honesta e sincera, algum lugar, enfim, no qual pudesse ser um homem novamente.

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