Se o ontem não tivesse existido seria possível um novo hoje?
Seria possível sentir se o ontem não fosse vivo dentro de nós?
O amor poderia nascer pela primeira vez de novo?
E conseguiríamos ver novas cores no mesmo cinza de todos os dias?
O ontem, firme como tatuagem na pele, nos deixaria sentir como se nunca tivéssemos sentido?
O ontem morre a cada manhã que traz o mesmo sol de sempre ou ele continua indefinidamente, independente da estação do ano, das chuvas e das secas?
Nos seus olhos o ontem é um fardo que paralisa ou uma lição duramente aprendida e estudada, tornando possível errar novamente? É uma saudade ou uma vontade?
A ditadura do ontem é eterna ou conseguiremos um dia ser apenas hoje e acreditar que o ontem é intermitente e não perene dentro de nós?
***
Ontem, tudo parecia mais fácil. O caminho mais difícil era igual. Mas, o normal era mais palpável. Era mais amigável o dia; a noite, mais leve. O palco era menor e menos conhecido e o caminho, menos longo.
As relações, mais rasas. Era possível voar sem asas, planar, pousar com tempo ruim. Não tinha tempo ruim, na verdade. A falsidade era comum, mas trivial; não causava estranheza, nem ilusão. O coração batia forte e a bússola sempre apontava o norte. Não havia determinada direção, todas levavam a tudo o que se quer. Os ouvidos eram menos atentos, mas se ouvia mais. Os olhos, menos míopes, observavam mais. O paladar era mais vivo e menos aguçado. O tato experimentava tudo, mas sentia menos sabor. A paixão era mais diversão e menos dor.
Era mais fácil ser verdadeiro; muito mais difícil ser confiável. Ser amável não dependia de qualquer afago. Para ser bom, bastava saber fazer. Bem ou mal. A dúvida era banal, não uma questão filosófica, nem um trunfo. A competição era só por prazer, nunca por necessidade.
A cidade era lugar de estar. A fuga não era tão necessária. A luta era semestral, não diária.
Eu não me importava com as tuas roupas. Não me contentava com somente outra boca.
Ontem, eu não sabia te amar.
As relações, mais rasas. Era possível voar sem asas, planar, pousar com tempo ruim. Não tinha tempo ruim, na verdade. A falsidade era comum, mas trivial; não causava estranheza, nem ilusão. O coração batia forte e a bússola sempre apontava o norte. Não havia determinada direção, todas levavam a tudo o que se quer. Os ouvidos eram menos atentos, mas se ouvia mais. Os olhos, menos míopes, observavam mais. O paladar era mais vivo e menos aguçado. O tato experimentava tudo, mas sentia menos sabor. A paixão era mais diversão e menos dor.
Era mais fácil ser verdadeiro; muito mais difícil ser confiável. Ser amável não dependia de qualquer afago. Para ser bom, bastava saber fazer. Bem ou mal. A dúvida era banal, não uma questão filosófica, nem um trunfo. A competição era só por prazer, nunca por necessidade.
A cidade era lugar de estar. A fuga não era tão necessária. A luta era semestral, não diária.
Eu não me importava com as tuas roupas. Não me contentava com somente outra boca.
Ontem, eu não sabia te amar.
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